Há exatamente um ano, dia 18 de
novembro de 2015, eu estava em Roma, com minha mulher, depois de rápida
passagem pela Universidade de Barcelona para um curso de mestrado, interrompido
pela avalanche da crise econômica, quando tomei conhecimento de que a Comissão
da Anistia do Ministério da Justiça, criada para aplicar a Lei 10.559/2002,
promovia sessão pública em Santos para julgar os casos de militantes políticos
perseguidos pela ditadura na Baixada.
Entre esses militantes, alguns de
Cubatão, entre os quais, Antonio Carlos Barreto, Euzébio Florêncio, Marivaldo
Silva Lopes e Maria Vanete Silva, além de outros ativistas de Santos, como o
ex-vereador Nobel Soares.
Embora tenha sido a principal liderança
do PT de Cubatão e da Baixada, desde a fundação, de 1.979 até 1.992, e mesmo
tendo processo protocolado desde 04 de abril de 2.013 (Proc. 2013.01.72199), o
meu caso estranhamente não estava na pauta.
Tão logo retornei ao país
procurei o escritório que contratara por indicação do ex-deputado Adriano
Diogo, do PT, e presidente da Comissão da Verdade da Assembléia Legislativa
para cuidar do caso. Para minha surpresa, as doutora Mariana Cruz e Gabriela
Fregni, de nada sabiam.
Por conta própria, eu próprio
descobri a razão: nenhum dos documentos de mais de 600 páginas – com informações
do DOPS, e dos órgãos de segurança do regime, além de declaração do meu
ex-chefe no Cidade de Santos, em que
assume que minha demissão do jornal se deu por pressões da alta direção da
Folha de S. Paulo e dos órgãos de segurança – não haviam sido juntados.
Ambas, com quem me reuni por,
pelo menos, duas vezes, também não sabiam explicar o porque não tinham tomado
essas providências básicas. Os documentos, todos como havia entregue em 2013,
me foram devolvidos e ainda estudo as providências que tomarei diante da
evidente negligência que me causou prejuízos inestimáveis.
Por fim, descobri os motivos para
o “esquecimento”: o escritório era braço operacional do PT e a doutora Gabriela
Fregni, exerceu a função sub-coordenadora jurídica da campanha da ex-presidente
Dilma Rousseff. Para mim, estava claro que a não juntada dos documentos no
processo foi parte da campanha de perseguição de que sou alvo desde janeiro 1.992,
quando da cassação do diretório do PT em
Cubatão.
Os militantes citados Antonio
Carlos Barreto, Euzébio, Marivaldo, Vanete, Nobel, receberam indenizações que variam
de 100 a R$ 500 mil, alguns com pensão vitalícia. O dinheiro foi pago em tempo
recorde para um precatório – menos de três meses. No início de 2016 todos já
haviam recebido, o que é atípico para precatórios federais que normalmente
demoram de 5 a 10 anos. Também coincidentemente tudo aconteceu pouco antes do
impeachment da ex-presidente.
As "coincidências" não param aí:
todos os anistiados tinham como procuradora a doutora Ana Lúcia Marchiori,
designada pelo PSTU para formar um grupo de anistiandos na Baixada. Eu próprio
fui procurado por um dirigente do PSTU (ex-Convergência Socialista) Antonio
Neto, e cheguei a passar procuração para a referida advogada.
Acabei por pedir o
substabelecimento por conta do desaparecimento da mesma por, pelo menos, três
meses, o que fez com que eu – e outros
companheiros – nos reuníssemos para buscar outro escritório, o que fiz por
sugestão do ex-deputado presidente da Comissão da Verdade da ALESP.
Alguém poderá se questionar: “Mas
como? O PSTU, um partido trotskista de ferrenha oposição a Dilma e ao PT, que
influência poderia ter neste caso?” A explicação só pode ser entendida, quando sabemos que, em julho deste ano, o partido teve o maior racha da sua história com a saída de
cerca de 700 militantes, que se que colocaram contra a política do partido que se
expressava na palavra de ordem “Fora Dilma”. Ou seja, o grupo dissidente
defendia apoio ao Governo Dilma. Mais uma surpresa: entre as dissidentes, a
advogada, Ana Lúcia Marchiori.
Nada tenho contra os indenizados.
Ao contrário. Ainda que nenhum deles – além dos lamentos em privado – jamais tenha
tornado público qualquer sentimento de indignação pela injustiça contra mim, que
os liderei em Cubatão por, pelo menos, 20 anos.
Prá mim, o 18 de Novembro foi um
dia triste. O sentimento de injustiça, mais uma vez. Primeiro, as perseguições de
anos de ditadura, na minha juventude. Na maturidade, às véspera de completar 60 anos, a
perseguição do partido que ajudei a
fundar e ao qual dediquei 20 anos da minha juventude, por meio de seus braços operacionais.
Mas, não desisto. Vou continuar
buscando os direitos que a Lei me garante. Diz-se que nos governos autoritários
“aos amigos tudo, aos inimigos, a Lei”. No caso do petismo em relação a mim,
até o direito à lei me negaram. Com a cumplicidade dos que – por covardia ou falta
de caráter mesmo – preferiram a comodidade do voto de silêncio.
#Perseguição Política #LutandoPor Justiça
#Perseguição Política #LutandoPor Justiça