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terça-feira, 10 de março de 2009

Parar de pensar "inho" para pensar "ão" - de Cubatão

Permitam-me acrescentar ao debate alguns aspectos. Primeiro: todo governo reflete uma determinada correlação de forças que, via de regra, se constrói durante a campanha eleitoral. É na campanha que se define não apenas programas, mas se fazem escolhas de com quem e para quem governar. O Governo Márcia Rosa, como qualquer outro, fez essas escolhas. Corretas ou não, cabe a nós, cidadãos e cidadãs julgar. A escolha da equipe de Governo (quem será secretário, quem será chefe disso ou daquilo) faz parte do processo de governar e, quase sempre, reflete opções e compromissos assumidos durante a campanha.

Digo isso porque discutir nomes, ou grupo esse ou aquele, de certa forma empobrece o debate e acaba transformando a discussão,“em briga de torcida”, de quem é contra ou a favor. É possível coisa mais irracional do que briga de torcida em porta de estádio? Quem já viu sabe do que estou falando.

No caso em questão, acho que deveríamos buscar outras referências, especialmente porque, o que queremos todos, rigorosamente, todos é o melhor para a cidade, é a cidade recuperada dos pesadelos recentes e pretéritos; é a cidade livre da degradação provocada pelo modelo de gestão baseado na transformação da Prefeitura em balcão de negócios de empreiteiras e prestadores de serviços; seria mais adequado dizer, serviços para eles, e desserviços para nós - a população.
É nesse sentido que observei em comentário recente que, ser Oposição é também uma forma de ser a favor. Mas, a favor da cidade. Os governos passam, qualquer um. Os partidos são instrumentos para a conquistada do poder – seja no plano municipal, estadual ou federal - representam interesses que, podem ou não estar em sintonia com a maioria da cidade. Quando estão, ganham eleições. Quando não estão perdem. É assim a vida.

O PT e a vereadora Márcia Rosa ganharam as eleições porque, em outubro do ano passado, o povo achou que, o que representavam era o melhor para a cidade e por isso expressou majoritariamente essa vontade nas urnas. Até onde isso vai é o tempo que vai dizer. Até quando representarão a maioria, é o tempo e o que fizerem, em sintonia – ou não – com o que foi assumido e prometido durante a campanha eleitoral, que é, como toda a campanha, a disputa de “corações e mentes”.

Quanto a nós, cidadãos, acho que devemos pautar o nosso debate por outras referências. Por exemplo: qual é a proposta do novo Governo para a Educação, para a Saúde? Para a questão das Cotas e Água Fria, que ameaça de remoção forçada cerca de 30 mil pessoas e diz respeito também a quem mora no Casqueiro e bairros adjacentes? Que posição terá em relação aos 2/3 da população jogada às margens nas favelas, privada, na sua maior parte, das condições mínimas de vida e dignidade humanas?

Qual a proposta de reforma urbana, se é que há? Qual a proposta em relação à maquina administrativa? As Administrações Regionais – até há pouco dispendiosos cabides de empregos para cabos eleitorais - serão extintas ou serão mantidas? E o transporte? Haverá acordo com a Piracicabana? Será recriada a Empresa Municipal de Transportes Coletivos? Ou teremos um sistema de transportes que priorize outras alternativas, vale dizer: as alternativas ferroviária, cicloviária e aquaviária, por exemplo?

E para o Teatro e o Edifício Castro – os dois monumentos à corrupção e ao desperdício? Será aberta auditoria para apurar responsabilidades e os desvios e entregar o caso ao Ministério Público? E o contrato do lixo, será prorrogado indefinidamente depois de sua prorrogação por mais um ano ter sido o primeiro ato da atual gestão? E o contrato com a Sabesp, será renovado sem discussão, mesmo a cidade não recebendo até o momento nenhum tostão em contrapartida por fornecer 80% da água potável da Baixada?

Qual será a relação com a indústria para gerar emprego e renda, com prioridade para quem mora na cidade, que nos permita tirar proveito de termos ao lado um dos maiores Parques Industriais do país, e para que não nos transformemos em uma cidade fantasma/dormitório?

Como se pretende incentivar o comércio? Como se pretende fortalecer o Banco do Povo para garantir crédito aos pequenos empreendedores e estimulá-los a gerar trabalho e renda?

Como se pretende fazer uma reforma urbana que também contemple as áreas que pagam IPTU, como o Centro e a Avenida Nove de Abril – que é essa “feiúra” cheia de buracos nos quais frequentemente as pessoas tropeçam e se machucam como já vi?

Como será a relação com a Câmara? Ao que me consta até o momento a nova Mesa sequer foi recebida pela prefeita. Como será a política para o funcionalismo público? Teremos um funcionalismo ganhando “abonos” e desmotivado ou teremos uma Política salarial que transforme cada servidor em servidor do povo? Como será a política cultural que garanta à cidade opções de entretenimento e lazer, para a juventude, mas não apenas para a juventude, também para a terceira idade, para os nordestinos que são a maioria?

E a população negra, que representa 51,7%? Cubatão é uma das sete cidades do Estado que tem maioria de população negra. Que políticas teremos que – sem privilegiar ninguém – dêem conta das especificidades e peculiaridades das demandas, partindo do princípio de que, desde Aristóteles, só se chega a Justiça tratando diferentemente os desiguais. E com a mídia? Até quando a Prefeitura será refém dos contratos com a Tribuna?

Quando passaremos a aproveitar o enorme potencial turístico do Parque Estadual da Serra do Mar, incluindo os monumentos da Serra do Mar - ainda administrados por uma ONG de S. Paulo -, para gerar trabalho e renda? E acrescento: gerar auto-estima numa cidade que vem sendo há décadas tão maltratada pelos seguidos governos?

Quanto a questão da moradia, deixará de ser tratada com “Bolsas” para se assumir que a cidade precisa de uma reforma urbana real verdadeira, em que moradia, não seja mais sinônimo nem de “Bolsa”, nem dos “pombais” do CDHU?

Quando passaremos a valorizar o que temos em termos de monumentos históricos e patrimônio cultural a ser preservado, como as Usinas da Light, a Fabril, os “sambaquis” e o cemitério judaico encravado no nosso, na Rua José Vicente, sem que as pessoas sequer saibam?

Quando passaremos a pensar grande? A parar de pensar “inho” para pensar “ão” – de Cubatão? A nos ver do tamanho que somos – ou pelo menos do tamanho do orçamento que temos, para resolver, não um nem dois, mas 90% dos problemas que temos, o que resultaria na elevação substantiva e na melhora da qualidade de vida das pessoas?

São essas questões que os convido a refletir e a unir forças. Se este Governo será capaz de dar as respostas que esperamos – ou que a maioria espera – é o que veremos . São essas as questões que tem sido objeto da minha reflexão no período sabático de 100 dias a que me impus como um gesto político e de “boa vontade”.

Esse período termina no dia 9 de abril (vejam que coincidência, mas emblemática!), e a partir daí todos os cidadãos, independente de partidos, de gostos, de times de torcidas, estarão chamados a exercer o seu papel de cidadãos. Papel que é único e irrenunciável. E decisivo para que a cidade avance. E melhore.

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