Em 1.984, mais precisamente no dia 24 de fevereiro, a Vila Socó (hoje São José) ardeu em chamas por conta de um incêndio totalmente previsível porque há anos a Petrobrás não fazia sua lição de casa: cuidar da manutenção dos dutos com gasolina e outros produtos inflamáveis que atravessam a área urbana.
Não se tratou de um acidente. Acidente é quando ocorre fato fortuito ou de força maior, completamente imprevisível. Exemplo: se alguém sai à rua com um carro em perfeitass condições e bate, aconteceu um acidente. Se alguém se dispõe a trafegar com um carro sem freios, óbviamente, que não ocorreu acidente algum, mas algo absolutamente previsível.
Cerca de 800 pessoas (a Petrobrás e cúmplices maquearam os números para reduzi-los a apenas 100), viraram tocos de carvão e jamais vou esquecer essas imagens numa antiga casa amarela que havia na Vila, e que foi transformada em necrotério. Também não esqueço as lágrimas do capitão Nilauril, na época o comandante dos Bombeiros.
As vítimas desamparadas e desesperadas, ainda chorando seus mortos, foram indenizadas à preço de banana pela Petrobrás, numa operação que daria uma boa Comissão Especial de Inquérito por quem desejasse saber mais do que se tornou público.
O tempo passou e quem ficou e resistiu, conseguiu, dois anos depois, arrancar dos Governos municipal, estadual e da Petrobrás a maior vitória do movimento popular em Cubatão: a conquista, sem quaisquer ônus, das 400 casas, que deram à Vila São José a cara que tem hoje.
Lembro os tristes episódios nos quais participei como protagonista para fazer um alerta, ainda que correndo o risco de ser, injustamente, visto como mensageiro de más notícias ou “ave de mau agouro”.
Há uma outra tragédia pronta prá acontecer – só aguardando o despencar de chuvas mais fortes – muito previsíveis. Basta que se tenha olhos para ver o que está ocorrendo no Brasil, em virtude de desequilíbrios ambientais e climáticos (vide Rio, Minas, Santa Catarina): as mortes de famílias inteiras nas Cotas, em especial no grotão da Cota 95 e em outras áreas de absoluto risco.
O perigo e a eminência dessa tragédia anunciada já são conhecidos do Governo Estadual, empenhado há dois anos em um plano de remoção generalizada e indiscriminada de toda a população para atender aos interesses da Ecovias e de empreiteiras e empresas de terraplenagem e do governo municipal.
O primeiro não age, utilizando o Poder de Polícia para remover as famílias comprovadamente em áreas de risco, esperando a tragédia para justificar a remoção de todas as famílias, sem quaisquer direitos. Trata-se de um cálculo sinistro, que precisa ser denunciado.
O segundo, bem o segundo, lembro que estou no meu período "sabático" de 100 dias, quando assumi que não farei qualquer cobrança nem crítica ao Governo Márcia Rosa.
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