Lula, o Filho do Brasil, o filme, estréia no dia 1º de janeiro em todo o país e promete ser pano de fundo da campanha de 2010. A história de um homem que supera as adversidades da fome e da pobreza, retirante nordestino como milhões de outros, e se torna Presidente da República é admirável. Tem todos os ingredientes de uma boa história capaz de converter cinemas em rios caudalosos de lágrimas.
A história de Lula é a minha história, como é também a história de milhões de migrantes nordestinos que, de pau de arara, de marinete (os famosos ônibus-jardineiras da década de 60, que tinham motor na frente e carregavam as malas no teto, cobertas por encerados) ou de carona se deslocaram para o “Sun Paulo”, para tentar uma vida melhor.
Meu pai, quando botou a mim e mais seis irmãos (todos de cobrir com um cesto) numa marinete para vir morar num barraco na Rua Portugal, 108, no Casqueiro, onde eu e meus irmãos nos criamos, fazia o mesmo percurso de dona Lindu, mãe de Lula, que estava apenas a alguns quilômetros dali, em um barraco do Itapema/Vicente de Carvalho.
COMO COMEÇOU A HISTÓRIA
Em 1.979, quando lançamos o PT em Cubatão, conheci Lula de perto. Antes, já o acompanhava, quando, na liderança do Movimento Estudantil na Faculdade de Comunicação, vendíamos bônus para os grevistas do ABC.
Quando, no dia 10 de agosto, no Forró do Lula, lançamos o Movimento Pró-PT, em meio a repressão policial e mais a oposição de setores da esquerda – em especial do PCB, que dominava o Sindicato dos Metalúrgicos, sob a direção de Arnaldo Gonçalves – não tínhamos noção de que fazíamos história. Éramos movidos a ideais e sonhos.
Éramos garotos que amávamos os Beatles e os Rollings Stones e também a Revolução. A proposta de um Partido que nascia “para lutar por uma sociedade sem exploradores nem explorados”, exercia um fascínio sobre a minha geração difícil de explicar, mas fácil de entender.
Lula esteve muitas vezes em Cubatão, duas delas, para encerrar as campanhas em que fui candidato a prefeito pelo PT, na Praça Princesa Isabel. Em cima de um caminhão, geralmente emprestado, alimentávamos o sonho de uma cidade renovada, refundada.
Lembro que num desses comícios, Lula levantou a minha mão como fez agora na Bahia, com o presidente palestino Mahamoud Abbas, e disse. “Confiem nesse Neguinho aqui, porque é ele que vai mudar a história dessa cidade”.
A DESTRUIÇÃO DO PT
Desde então, o tempo passou, o PT, tomado de assalto pelo grupo de aventureiros comandado pelo chefe do mensalão, José Dirceu, tornou-se um Partido igualzinho a todos os outros. Eu fui atropelado, em 1.992, quando uma simples discussão de uma política de alianças, provocou a intervenção violenta e a tomada do Partido pelo segundo escalão do mensalão (Rogério Buratti, Silvio Land Rover e outros) - todos caídos em desgraça com o escândalo, embora o chefe maior, Dirceu, seja provavelmente, o cassado por corrupção de maior prestígio na história deste país.
Quando reencontrei Lula, no dia 16 de novembro de 2.005, já no Palácio do Planalto, durante a Marcha Zumbi + 10, no 3º andar do Palácio, ele me reconheceu. “Você não é o Dojival de Cubatão? Sou, presidente”, respondi, discreto.
"Por onde você anda, rapaz?", insistiu. "Você já era para ter sido prefeito de Cubatão. Mas, foi brigar com Okamoto!!”.
Ironia de Lula ao burocrata que comandou a destruição do verdadeiro PT de Cubatão – hoje o todo poderoso do Sebrae nacional, conhecido como o doador universal, por ter sido apanhado pagando contas particulares de Lula, em episódio tornado público pela Imprensa.
Não por acaso, lembrava-se das tramóias, das pressões da prefeita e hoje mandachuva no Governo do PT local, a atual vereadora Telma de Souza, o que diz muito a respeito de como estava informado dos fatos e da violência e da injustiça de que fui alvo.
AS VOLTAS DA HISTÓRIA
Não quis encompridar a conversa, pela inconveniência do momento e porque estava diante do Presidente da República. Era preciso respeitar o ritual para não ter que dizer-lhe, que havia sido cúmplice da tentativa de assassinato da minha história e reputação políticas.
Hoje, Lula, o PT e o Brasil mudaram. Eu também. Há, porém, entre nós muitas diferenças nessas mudanças: “eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens”, como dizia Belchior, no distante ano de 1976, no disco Alucinação.
Há uma coisa que não abro mão e assim será até o final da minha vida: continuo acreditando em sonhos, em uma cidade e em um país em que a política e o poder existam para servir as pessoas; e não o contrário.
As chances de transformar o Brasil de verdade, ninguém as teve como o ex-metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva. Ele e o PT, contudo, renderam-se ao pragmatismo absoluto.
Se Lula não teve a coragem, o idealismo ou a ousadia para fazê-lo são outros quinhentos. Se preferiu surfar na onda que o transformou em ícone mundial, em ator global, é outra estória.
MEU FILHO, QUE TAMBÉM É DO BRASIL
Ainda sobre o filme, um belo dia, Dojival, meu filho, me liga prá dizer que estava fazendo matéria sobre os bastidores das gravações do filme e que vestira a pele de figurante para fazer a reportagem.
Me lembrei de uma passagem de Lula pela minha casa, na Rua Santos, no Jardim S. Francisco, quando Dojival tinha pouco mais de um ano de idade, poucos dias antes do encerramento da campanha de 1.982, na qual me elegeria vereador. “Ao querido Dojival, com a esperança que em um futuro bem próximo possa compreender a nossa luta. Abraços do titio Lula. Cubatão, 07 de Novembro de 1.981", escreveu de próprio punho.
Dojival compreendeu cedo a nossa luta. Só nunca compreendeu a tentativa de assassinato da história e reputação política de que seu pai viria a ser alvo, com a conivência e a cumplicidade do mesmo Lula.
Mesmo assim, vejam como a história dá voltas. Na foto Dojival, já com 29 anos, fazendo o papel de figurante no filme de Lula, que teve a sua pré-estréia na semana passada no Festival de Brasília.
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