Segunda-feira, 11/janeiro - Madri amanheceu sob o impacto da nevasca da noite anterior. Saímos, eu e minha mulher, em direção à Estaçao Atocha para tomar o trem para Toledo. Atocha, ou Atocha Renfe, foi onde aconteceu o atentado que matou 191 pessoas e deixou 1.700 feridas em 11 de março de 2004 - o 11 de setembro espanhol.
O atentado até hoje é um mistério porque o suposto comando terrorista, cercado pela polícia espanhola poucas semanas depois, cometeu suicído fazendo explodir o apartamento em que estava.
O governo acusa a Al Qaeda, mas as investigaçoes nunca foram conclusivas. Em homenagem às vítimas foi erguido um jardim tropical, no interior da Estaçao, com palmeiras e um lago, onde tartarugas, grandes e pequenas, se esforçam para subir nas pedras e pegar uma nesga de sol.
Os trens sofrem atrasos por causa da neve, porém embarcamos no das 12h20, em direçao a Toledo, cidade que durante séculos foi símbolo da convivência pacífica das culturas judaica, muçulmana e crista.
Os trens, além de muito velozes, sao extremamente confortáveis; desliza em meio ao branco da neve por todos os lados e em 30 minutos chegamos à Estaçao de Toledo, inaugurada em 1.919 e que mantém o desenho original.
A neve continua em toda a parte, e o frio, bem o frio é uma constante. Na fila pela espera do bus ou táxi (o que chegar primeiro), cinco brasileiros: uma médica de Aracaju, Elina, sua nora Priscila, do Rio, vivendo em Madri com o marido, e um paulista de Presidente Prudente, além de duas estudantes de Curitiba, que estao vindo passar alguns dias.
Tenho uma tendência natural (quase compulsao) em puxar conversa com brasileiros, quando me encontro fora do país. Acho legal compartilhar a experiência de quem está fora, e chego a me irritar com alguns - que mesmo percebendo o português/brasileiro falado ao lado - fazem de conta que nao estao nem aí. Acho uma atitude esnobe, me aborreço. Por isso, a primeira coisa que faço quando encontro brasileiros é: "de onde sao?" Faço o mesmo com latino-americanos, o que normalmente rende bons papos, troca de experiências e, até mesmo amizades.
Até hoje tenho, em Buenos Aires, uma amiga que fiz na viagem a Bolívia e ao Peru (Cuzco e Machupicchu), em 2001, com o Dojival, meu filho. Alessandra Sittner, a Ale, advogada, é uma amiga querida, que ja esteve em casa, em S. Paulo, e que pretendo reencontrar no retorno, quando da passagem por Buenos Aires.
TOLEDO, O PODER DA IGREJA
Em Toledo, além do casario da Idade Média e da convivência pacífica entre as culturas - até a expulsao de judeus e muçulmanos, em 1.492 (o mesmo ano do descobrimento das Américas por Colombo), chama a atençao a visita a Catedral de Toledo.
Quem quiser ter uma idéia de como a Igreja Católica é um império multinacional, do seu luxo, riqueza e imponência, bem explícito no Estado que o Vaticano encarna, tem de dedicar algumas horas a percorrer a Catedral de Toledo. Os nobres da época dividiam o espaço do templo, comprando os metros quadrados onde seriam enterrados, e transformando esses espaços em capelas; luxo e riqueza, ouro, tudo.
A Inquisiçao na Espanha atuou sob o controle dos reis, de 1.478 até 1.834, resultado da reconquista da Espanha pelas maos dos muçulmanos e da política de conversao de judeus e muçulmanos espanhóis ao catolicismo. A Inquisição foi um importante instrumento na política chamada limpeza de sangue contra os descendentes de judeus e de muçulmanos convertidos.
Quadros de Rafael, e El Greco, que viveu na cidade, se destacam no museu, que funciona dentro da Catedral.
Depois estivemos no bairro judeu, onde a Sinagoga estava fechada por causa da segunda feira. Na parte muçulmana, só pudemos ter uma idéia pela visita ao Museu de Santa Cruz, onde se pode ter ver como era a convivência pacífica e harmoniosa entre as três culturas durante o período da ocupaçao da Península Ibérica (Espanha e Portugal) pelos árabes.
A visita a Toledo termina com uma passada em um bar da Praça Zocodover. Um bate papo com o garçom Eliseu Portales, um paraguaio, nos coloca novamente no território comum, nas veias abertas da América Latina. Brinca Portales que, seu presidente, o bispo Lugo, "se elegeu graças ao apoio dos filhos", numa alusao bem humorada a quantidade de mães chorosas que reclamam de Lugo a paternidade de seus rebentos.
O garçom também nos lembra que "Lula esteve aqui en la Plaza, el año pasado, con Zapatero".
Nos despedimos, com um run cubano para espantar o frio, e seguimos até a Estaçao para tomar o trem de volta a Madri.
Arriba, España! Com neve e tudo!
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